quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Um punhado de balas!!

   Para mim que há muitos anos trabalho em um grupo de ajuda, e posso dizer que por  mais de 30 anos sou voluntário, tenho percebido e visto coisas que meus olhos nunca imaginaram e meu coração nunca imaginou que fosse bater tão forte.
   Dentre de tantas coisas que ouvi,  vem em pensamento neste momento um pai alcoolatra, e que durante seus periodos de sobriedade, sentia uma alegria, de ver quando chegava em casa, sua filha vir correndo e colocar as mãos nos seus bolsos e dar de encontro com um punhado de balas, que era um ritual, na verdade, quase se tornava um sagrado.
   Mas houve um momento que recordo , foi quando numa reunião do grupo ele comentou que se sentiu fraco e a bebida mostrou para ele novamente que era mais forte. E foi nesse descompasso que ao chegar em casa a filha foi correndo direto aos seus bolsos, e encontrou eles vazio, havia uma sintonia silenciosa, dela entender que quando o pai retornava para casa e não encontrava as tão esperadas balas no bolso, porque novamente a bebida tinha enchido não os bolsos, mas de tristeza suas vidas.
   E assim se sucederam por muito tempo, o pai com o cabelo que o vento não mais balançava, as mãos que tremiam num dia muito quente, um olhar com o colorido de um por de sol de épocas de secas, as pernas que não se entendiam, porque uma teimava ir para um lado e a outra para outro.
   E foi numa dessas conversas que tivemos, enquanto ele não tinha bebido que fiz ele pensar do quanto era importante se sentir um alguém e não viver assim como um ninguém, e foi numa dessas conversas de entendimento que ele resolveu que deveria mudar. Lembro perfeitamente que era época de natal, uma data linda e disse para ele que deveria pensar em um renascimento.
   Certo dia, ao chegar em casa a filha meio cabisbaixa veio ao encontro dele e ficou parada ao seu lado e ele disse para que ela colocasse as mãos em seus bolsos, e assim ele viu quão grande era a alegria da filha porque a mesma encontrou um punhado de balas que pareciam queimar em suas mãos. Foi então que o pai perguntou o que ela queria de presente de Natal, foi então que ela respondeu que apenas uns punhados de balas, mas ele disse para ela que era tão pouco, que com a parada de beber tinha lhe sobrado um bom dinheiro. Mas a filha apenas disse, que apenas queria esse punhado de balas a cada dia, porque ela sabia que ele estava bem, e isso seria, e era o maior de todos os presentes que ela teria.
   Por isso, penso que nunca devemos desistir das pessoas. Os presentes que nos parecem tão insignificantes, tem um valor imenso, para muitos um presente de Natal deveria ser algo muito valioso, mas para aquela filha apenas um punhado de balas significava muito,pois dava a certeza que o pai nao tinha bebido e isso era o melhor presente que ele poderia dar a ela. Foi então que ela disse para ele , um feliz Natal, e ela retrucou: um punhado de balas, todos os dias.

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